quarta-feira, 17 de outubro de 2007

A NOITE COMO O LUGAR DA CONSCIÊNCIA DA FÉ E DA CRENÇA



Como as chamas de uma vela que embelezam as Igrejas, as catedrais, as sinagogas… os lugares de culto, à medida que se vão desgastando, assim a noite é para o homem que procura e se procura, o lugar da beleza e da dor, o lugar da realidade e do horror, pois ela, é o lugar de encontro entre a alegria da vida e a sua dor, o espaço em que a bondade de Deus e a sua grandiosidade se cruzam com a revolta e a impotência humana, é o lugar onde também Deus conhece a sua própria noite a partir da renovação e do reviver da estrada de Gólgota ao Calvário na pessoa do humano sofredor.
A noite é, ainda, o lugar onde o homem antes de encontrar ou procurar Deus, Deus o procura e o encontra sem violar o espaço da liberdade humana. O Deus que desce na sombra da noite é, antes de tudo, um Deus humano, um Deus humanizado pelo próprio homem porque toma e traz consigo as diferentes formas de sofrimento do homem.
É em Deus que ele consegue viver pobremente, sem, no entanto, ser miserável. É o cheiro, o odor e o temor de Deus que faz com que ele consiga ler nos seus semelhantes a linguagem de solidariedade e de compaixão. E, isso chama-se fé porque é vivido, é compreendido e é habitado por algo que nos é transcendente. Esta fé é o oposto da crença que me diz o que devo fazer simplesmente porque a regra, o costumo, o sistema e o hábito, prescreveram que assim seja.
Ps: Publicado no Jornal Ágape do mês de Outubro.

sábado, 6 de outubro de 2007

O PAÍS SOCIALISTA DOS NOSSOS DIAS


A convulsão mundial em que o pântano político se mergulhou tem estado muito favorável ao presidente venezuelano Hugo Chavez. Enquanto o mundo de segurança e de insegurança se guerreiam no Iraque, na Afeganistão, na Tchetchenia russa, em Guantánamo e no mortífero Darfur não árabe, ou melhor, na porção infiel do território sudanês, o presidente Chavez vai alargando as bases do seu novo Estado de Direito na linguagem socialista. Animado pelo sono do anti americanismo que fustiga muitas capitais da política mundial, o senhor da Venezuela vai arrastando para junto de si o tempo da consciência que ainda resiste ao absolutismo que espreita a Venezuela através do populismo e da demagogia.
O fardo dos erros que a América trás “nas costas” através da pessoa de Bush faz com que a opinião mundial se apresse a alinhar-se com tudo que se apresenta como uma alternativa à América dos erros, pouco importa se esta suposta alternativa é uma demagogia ou um trampolim para o absolutismo e ditadura do novo populismo. Depois de ter conseguido neutralizar a maior cadeia televisiva privada do país, o presidente Chavez decidiu apostar numa manobra constitucional para se eternizar no poder e, mais uma vez a comparação é não ser como América.
Numa Venezuela dividida ao meio, de um lado, pelos apoiantes do socialismo de Chavez e de outro, por todos aqueles que não estão com o presidente, o ar pesado do desconforto democrático que se respira através das actuações do presidente venezuelano, parece começar também a preocupar os seus vizinhos. Se até aqui o bloco constituído pela Venezuela de Chavez e a Bolívia de Ivo Morales tem sido visto com desconfiança, o acordo de entendimento entre o presidente venezuelano e o seu homologo iraniano veio acentuar ainda muito mais esta desconfiança. A recente oferta do presidente Chavez em mediar a questão Colombiana não está a cair bem em muitos espaços diplomáticos da região, a tal ponto que o senhor da Venezuela está a ser obrigado a mudar a linguagem de oferta. Resta saber ate que ponto a comunidade internacional refém do petróleo venezuelano continuará também refém da demagogia e do populismo do seu presidente.

Ps: publicado na revista prestígio do mês de Outubro.