sexta-feira, 22 de maio de 2009

"AQUELE QUE TE CRIOU QUER-TE TODO INTEIRO"

Os meios de comunicações oferecem, normalmente, imagens de um sofrimento sorridente de África. É uma cumplicidade indiferente com a tragédia, que tende a eternizar-se
Não sei se nos compete escrever uma literatura de consolo sobre África. O certo é que a África precisa de consolo. Primeiro, para a auto-geração do seu ethos e, segundo, para dar uma imagem para o exterior de que está viva. Certamente que isso alegraria os deuses. Mas não o homem que vive e sobrevive à custa das migalhas de um eterno sofrer.Os deuses estariam contentes com uma imagem de África sorridente. Poderiam auto-desculpar-se e, quem sabe, renovar e consolar a própria consciência de uma África criada para sorrir, sofrendo. As imagens, fotografias e reportagens que os meios de comunicações nos oferecem, normalmente costumam trazer um sofrimento sorridente de África.Uma cumplicidade indiferente com a tragédia. O sofrer já não é uma excepção que quebra uma regra, mas uma normalidade com desejo de eternizar-se. Apesar de tudo isso, ainda terão de acreditar que aquele que os criou também os quer todos inteiros. Uma linguagem de consolação para contrapor à linguagem catastrófica, mas nem por isso menos verdadeira.
Inácio Valentim FÁTIMA MISSIONÁRIA

sábado, 16 de maio de 2009

ÁFRICA, O ETERNO MURO DAS LAMENTAÇÕES

A realidade do sofrimento construiu um muro invisível, nos céus das fronteiras africanas. A paz e a riqueza dos ideólogos das independências desabaram no mar de incerteza e de contínuas lutas fratricidas. No meio deste turbilhão do morrer na lentidão, um pequeno grupo assenhoreia-se do sangue daqueles que vivem para morrer lentamente. Por infelicidade, estão a ser desgovernados com rapidez.Nada pergunta pelo futuro. Quanto muito, alguém poderá perguntar: onde poderei encontrar o primeiro e último pedaço de pão? E porque não rematar com o livro das Lamentações, porque “a minha alma está excluída da paz, (e) esqueci a felicidade”. Naturalmente aqui falamos da paz e da felicidade política, da falácia da ideologia.O paradoxo é que, enquanto uns caem como folhas secas, nas suas costas são assinados contratos milionários com as empresas e parceiros ocidentais. É uma nova forma de comprar o sofrimento para depois desmanchá-lo na praça da desumanidade. O dinheiro e a técnica já não nos permitem ver o pobre como aquele que sofre as consequências das nossas más acções, mas permite-nos vê-lo como aquele que deve existir para que a técnica faça o seu caminho e para que o dinheiro dite as regras do jogo da imoralidade.
Inácio Valentim FÁTIMA MISSIONÁRIA