Como as chamas de uma vela que embelezam as Igrejas, as catedrais, as sinagogas… os lugares de culto, à medida que se vão desgastando, assim a noite é para o homem que procura e se procura, o lugar da beleza e da dor, o lugar da realidade e do horror, pois ela, é o lugar de encontro entre a alegria da vida e a sua dor, o espaço em que a bondade de Deus e a sua grandiosidade se cruzam com a revolta e a impotência humana, é o lugar onde também Deus conhece a sua própria noite a partir da renovação e do reviver da estrada de Gólgota ao Calvário na pessoa do humano sofredor.
A noite é, ainda, o lugar onde o homem antes de encontrar ou procurar Deus, Deus o procura e o encontra sem violar o espaço da liberdade humana. O Deus que desce na sombra da noite é, antes de tudo, um Deus humano, um Deus humanizado pelo próprio homem porque toma e traz consigo as diferentes formas de sofrimento do homem.
É em Deus que ele consegue viver pobremente, sem, no entanto, ser miserável. É o cheiro, o odor e o temor de Deus que faz com que ele consiga ler nos seus semelhantes a linguagem de solidariedade e de compaixão. E, isso chama-se fé porque é vivido, é compreendido e é habitado por algo que nos é transcendente. Esta fé é o oposto da crença que me diz o que devo fazer simplesmente porque a regra, o costumo, o sistema e o hábito, prescreveram que assim seja.
Ps: Publicado no Jornal Ágape do mês de Outubro.