sexta-feira, 6 de julho de 2007

A ÁFRICA E O FURACÃO SARKOZY


Tout sauf Sarkozy, este é um dos slogans e cartazes que chegaram a ser ouvidos e vistos na França eleitoral. Muitos daqueles que deram voz a estes slogans e cartazes eram africanos ou franceses de origem africana. A França dos pequeninos, como diziam alguns vendedores das ideologias da esquerda, queria ver todos no Eliseu menos Sarkozy. Todos, mesmo que não tivessem projectos ou não fossem políticos carismáticos.
No fundo, o Ocidente político sabia que a Esquerda andava mal. O que ainda não se sabia até às eleições francesas, era de facto que a Esquerda estava mesmo muito mal. As eleições francesas trouxeram à ribalta duas novidades: o fenómeno Ségolène Royal e o furacão Sarkozy. O mal-estar da Esquerda francesa muito cedo ensopou a fluidez analítica e verbal de Ségolène abrindo ainda mais o caminho para a vitória galopante de Sarkozy que a suposta França dos pequeninos queria evitar.
Com efeito, Sarkozy tinha estado na origem de algumas polémicas com as comunidades de origem africana e não só. Fez parte do núcleo que defendia os benefícios da colonização, isto é, que no fundo a colonização não deixava de ser, de uma certa forma, um bem concedido aos colonizados, uma vez que o projecto colonial tinha como objectivo levar a civilização aos selvagens. Os adversários, incluindo o Presidente Chirac, não hesitaram em preparar-lhe a cama, mas falharam. Sarkozy foi também origem de polémica ao usar a expressão ces bandes de racailles quando se dirigiu aos adolescentes incendiários na periferia parisiense, sem contar que expulsou centenas de imigrantes senegaleses e malianos ilegais contra tudo e todos.
Sarkozy estava portanto à partida condenado à não elegibilidade no que dependesse da França dos pequeninos, quer em relação aos franceses de origem africana quer em relação aos franceses de origem árabe, uma vez que estes o acusavam de ser um instrumento dos sionistas. Mas ainda bem que foi eleito, ainda bem, porque chama os políticos africanos à razão; apresenta-lhes os factos com os nomes concretos, coisa que até agora nenhum presidente francês tinha feito. Avisou em plena campanha eleitoral que não esperaria por ninguém para actuar em Darfur (o nosso silêncio perante 200.000 mortos em Darfur não é aceitável), pois com ele os crimes de Ruanda não se repetiriam e está a fazê-lo através dos corredores criados a partir de Chade e do Níger. O posicionamento no Conselho de Segurança da ONU mudou em ralação ao Darfur com a chegada de Nicolas Sarkozy. A China, um dos parceiros fundamentais do regime de Cartum está a distanciar-se do seu posicionamento inicial. Nicolas Sarkozy foi claro em matérias do direito do homem e de liberdade de expressão, isto é, a política externa da França tinha que ter em conta estes dois vectores.
Chirac deixou um legado pobre em termos de política francesa em África. Preferiu construir amizade com os chefes de Estados africanos, assinar acordos paralelos e não oficiais em lugar de exigir que ponham em bom uso os montantes que recebem pedinchadamente do Ocidente. Sarkozy denunciou este tipo de comportamento aquando da sua visita à Republica do Benin. Sarkozy sabe que este tipo de comportamento tem efeitos nefastos para a França e exemplo disso é que a França foi corrida na Costa do Marfim através das manifestações violentas contra os franceses. Ouviu-se nas ruas de Abijan, “nous voulons les americains”. Uma cólera bem entendida e bem interpretado por Sarkozy, as antigas colónias já não vêem com bons olhos a eterna presença francesa no campo militar em África. Os países onde a França tem base militar exigem uma redefinição nos acordos e Sarkozy apoia as exigências ao afirmar que a França tem que rever a sua política de defesa em África.
A ruptura de que Sarkozy fala e que os africanos tanto temem, não tem só a ver com a questão da imigração, mas sobretudo com a questão da governação e da gestão da própria governação. Sarkozy sabe que a nível da geopolítica e geoestratégica, a França é o país mais bem posicionado em África, isto graças à visão preventiva dos tempos que o general de Gaulle teve em relação ao continente. O que Sarkozy não quer, assim como qualquer potência não o quereria, é que os custos da vigia geopolítica e geoestratégica sejam mais elevados que os seus benefícios.
O furacão Sarkozy ainda não começou em África mas já está a deixar saudades dos tempos do presidente Jacques Chirac entre aqueles que entraram na política para enriquecer custo zero.
Ps: Publicado na "Positiva do mês de Junho"

2 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro Valentim
Estou completamente em desacordo com este artigo. Você acha que algum dia Sarkozy vai querer algum bem para a África mais do que Chirac? Você tem feito muito boas reflexões, mas este artigo está simplesmente a apoiar o imperialismo, o jadaismo e o americanisnm de Sarkozy.

Anónimo disse...

Hà cada gajo...