O ponteiro do tempo parece estar parado para alguns funcionários da Embaixada da Guiné-Bissau em Portugal. Há anos que vão vivendo à sombra da vida e à margem do conforto e da vicissitude laboral, intelectual e económica daquilo que é uma verdadeira carreira diplomática. Num meio laboral vestido, particularmente, com a espessura da noite de pequenez característico ao meio político e partidário guineense. Já se fizeram sentir ecos acerca do mau estar dentro do espaço consolar e diplomático guineense por causa das guerras de interesses e o crescente poder das forças ocultas que por lá deambulam. Razão mais do que suficiente para perguntar, se é que a pergunta ainda não foi feita – quem é o Embaixador dentro do espaço consolar e quem exerce o poder de Embaixador no referido espaço. Também não fica mal perguntar se a senhora Ministra que tutela a pasta da Diplomacia teve o cuidado de se inteirar a fundo sobre o real funcionamento da Embaixada. E, já agora, se o senhor Primeiro-ministro e até mesmo o senhor Presidente estão interessados em saber acerca daquilo que é o espelho do país fora do país. O panorama dos acontecimentos não fala a favor da positividade das perguntas feitas e diminui o impacto da Embaixada enquanto figura jurídica e diplomática que oferece serviço e protecção à comunidade guineense que reside em Portugal, quer se trate de pessoas afectas à Embaixada por vínculos laborais, quer se trate de pessoas ligadas a ela pela representatividade do Estado. Por tudo isso, não seria mau que o senhor Primeiro-ministro aproveitasse a deslocação a Lisboa para tentar pôr cobro à situação desumana dos funcionários. Aqueles que ainda lá estão e aqueles que foram dispensados/transferidos e que, curiosamente, o salário em atraso de alguns já vai no quinto ano. Também é salutar que se resolva a situação escandalosa da prática dos cheques carecas que parece ser legitimada por falta de punição. |
quinta-feira, 30 de agosto de 2007
A DIPLOMACIA DO SOFRIMENTO
quarta-feira, 1 de agosto de 2007
A UNIÃO AFRICANA E A QUERELA DOS GRANDES
Foi sob uma grande tensão que o Gana acolheu no mês passado, a nona cimeira da União Africana. O ambiente da temperatura política era tal, que semanas antes da realização da cimeira, alguns líderes puseram em causa a utilidade da manutenção da data da sua realização. O confronto pouco democrático protagonizado pelo presidente Thabo Mbeki da África de Sul e o coronel Muammar Kadafi da Líbia, não passou indiferente em nenhuma capital da política africana. O tom de força apresentado pelos dois presidentes não era só motivos de preocupação para o presidente da União Africana, (o maliano, Alfa Umaro Konaré), mas de todos os líderes do continente. Em causa estava a questão de saber se, se devia avançar com o projecto dos Estados Unidos de África apadrinhado pelo presidente líbio ou se, se devia primeiro de tudo como defende o presidente sul-africano, Fortificar as instituições regionais. Como é óbvio, é mais do que evidente que a ideia de Estados Unidos de África neste momento é um contra senso para um continente que se quer democratizar. O projecto do coronel Kadafi, independentemente de ser viável ou não, requer antes de tudo, ser acompanhado pelas instituições verdadeiramente democráticas e precisa também de convencer aos cidadãos africanos da sua verdadeira utilidade para o continente. Pois, uma coisa é ter ideias megalomaníacas com fins de reconhecimento público e até mesmo de ajuste de contas com os seus inimigos europeus e americanos e outra coisa é ter ideias que possam revitalizar o continente rumo ao desenvolvimento e a democracia. Desde o desaparecimento do presidente Félix Houpbouët-Boigny da costa do Marfim que o coronel Kadafi foi se habituando a ideia que os lideres africanos o devem seguir simplesmente como cordeiros. Por isso, não é de estranhar que ele não tenha gostado que o presidente Mbeki o fizesse face. Ao tentar intimidar o tom desafiador do presidente Thabo Mbeki, financiando ilegalmente algumas instituições, o coronel Kadafi cortou-se democraticamente, embora da democracia ele tenha pouco ou quase nada. A tentativa de subverter o presidente Thabo Mbeki, primeiro por dentro com o financiamento da política antigovernamental através das instituições e das ONGs e depois por fora através da diplomacia da influência, revelou-se simplesmente uma tentativa de golpe político e diplomático muito baixo. A baixeza é de tal forma gritante que o coronel se esqueceu que a África do Sul não é daqueles pequenos países onde anda a semear religião e ideologias pouco ortodoxas. Assim, a cimeira que devia servir para discutir os principais problemas do continente, não fez que demonstrar a quão crispada está a União Africana. O presidente da UA, bem tentou justificar a ausência do coronel presidente nas primeiras horas da cimeira, mas não foi possível pois não há sol que esconda tanta desavença e falta da democracia no seio da União Africana. |
O CHOQUE DOS TITÃNS
Os olhos do mundo da política internacional têm estado fixados nestes últimos tempos sobre a Rússia do presidente Putin. Depois de ter protagonizado uma triste figura nas vésperas da cimeira do G8, onde as suas posições saíram claramente a perder, o presidente Putin volta a carga com o caso Alexander Litvinenko assassinado a 23 de Novembro do ano passado em Londres. Poucos dias depois de ter “mandado” retirar a Rússia dos seus compromissos com a NATO, uma birra que tem a ver com a sua derrota tecnológica em relação à atenção a que os países europeu deram ao projecto americano planeado para a República Checa e a Polónia, a Rússia na pessoa do regime do presidente Putin acaba de recusar a extradição do principal suspeito do assassinato de Litvineko. O fundo da questão da tensão entre o Reino Unido e a Rússia não está na legitimidade da extradição, mas na boa fé a que se deve um bom funcionamento das Relações Internacionais e das diplomacias em particular. É óbvio que se a constituição russa não prevê a extradição, o regime de Kremlin não extraditará o cidadão Andrei Lugovoi sem antes fazer umas emendas constitucionais ainda que sejam só políticas. Os apuros constitucionais em relação à questão da extradição não são novidades entre os titãs ditos do primeiro mundo. A Itália e os EUA também estiveram em apuros até há bem pouco tempo por causa do rapto e assassinato de uns presumíveis terroristas em solo italiano pelos serviços secretos norte-americanos. O próprio Reino Unido só extraditou para a França há alguns meses, o magrebino acusado de ter protagonizado os atentados de Paris na década de oitenta. A questão russa tem a ver com a ausência da democracia no sentido pleno do termo e na independência dos poderes dentro da democracia. O rebentamento russo em relação ao exterior está ligado ao “absolutismo democrático” instituído por Putin e tem também a ver com o juramento que os russos fizeram de nunca mais voltar a ser humilhados pelo Ocidente democrático depois da experiência com os anos Yeltsin. Apesar de lhes faltar os meios tecnológicos e económicos, os locatários de Kremlin não estão dispostos a ver nas exclamações do defunto presidente Yeltsin erros a não repetir. “O que é que fizeram àquele pobre país (Rússia), o que é que fizeram ao meu povo”. O presidente Putin está neste momento a cometer os erros que constituíram a lamentação de Yeltsin depois do seu contacto com a magnificência da tecnologia e do desenvolvimento Ocidental. Longe de uma apologia americana, o certo é que, a esta hora do relógio, os europeus começam a ter a noção de que América é a verdadeira patrocinadora da sua paz kantiana. Também a oposição russa sairá a perder com esta crise internacional, una vez que ficará esquecida a nível das preocupações políticas. A Rússia, a vizinha próxima dos europeus ainda não é democrata e não sendo democrata, não tem que jogar o jogo dos democratas. |
PS: publicado na "Postiva" do mês Julho.
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