Os olhos do mundo da política internacional têm estado fixados nestes últimos tempos sobre a Rússia do presidente Putin. Depois de ter protagonizado uma triste figura nas vésperas da cimeira do G8, onde as suas posições saíram claramente a perder, o presidente Putin volta a carga com o caso Alexander Litvinenko assassinado a 23 de Novembro do ano passado em Londres. Poucos dias depois de ter “mandado” retirar a Rússia dos seus compromissos com a NATO, uma birra que tem a ver com a sua derrota tecnológica em relação à atenção a que os países europeu deram ao projecto americano planeado para a República Checa e a Polónia, a Rússia na pessoa do regime do presidente Putin acaba de recusar a extradição do principal suspeito do assassinato de Litvineko. O fundo da questão da tensão entre o Reino Unido e a Rússia não está na legitimidade da extradição, mas na boa fé a que se deve um bom funcionamento das Relações Internacionais e das diplomacias em particular. É óbvio que se a constituição russa não prevê a extradição, o regime de Kremlin não extraditará o cidadão Andrei Lugovoi sem antes fazer umas emendas constitucionais ainda que sejam só políticas. Os apuros constitucionais em relação à questão da extradição não são novidades entre os titãs ditos do primeiro mundo. A Itália e os EUA também estiveram em apuros até há bem pouco tempo por causa do rapto e assassinato de uns presumíveis terroristas em solo italiano pelos serviços secretos norte-americanos. O próprio Reino Unido só extraditou para a França há alguns meses, o magrebino acusado de ter protagonizado os atentados de Paris na década de oitenta. A questão russa tem a ver com a ausência da democracia no sentido pleno do termo e na independência dos poderes dentro da democracia. O rebentamento russo em relação ao exterior está ligado ao “absolutismo democrático” instituído por Putin e tem também a ver com o juramento que os russos fizeram de nunca mais voltar a ser humilhados pelo Ocidente democrático depois da experiência com os anos Yeltsin. Apesar de lhes faltar os meios tecnológicos e económicos, os locatários de Kremlin não estão dispostos a ver nas exclamações do defunto presidente Yeltsin erros a não repetir. “O que é que fizeram àquele pobre país (Rússia), o que é que fizeram ao meu povo”. O presidente Putin está neste momento a cometer os erros que constituíram a lamentação de Yeltsin depois do seu contacto com a magnificência da tecnologia e do desenvolvimento Ocidental. Longe de uma apologia americana, o certo é que, a esta hora do relógio, os europeus começam a ter a noção de que América é a verdadeira patrocinadora da sua paz kantiana. Também a oposição russa sairá a perder com esta crise internacional, una vez que ficará esquecida a nível das preocupações políticas. A Rússia, a vizinha próxima dos europeus ainda não é democrata e não sendo democrata, não tem que jogar o jogo dos democratas. |
PS: publicado na "Postiva" do mês Julho.
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