terça-feira, 23 de dezembro de 2008

"DEIXEM QUE OS MORTOS ENTERREM OS SEUS MORTOS"



Nos tempos que correm, quando olhamos para o panorama da realidade africana, ficamos com a impressão de que estamos a vivenciar uma exortação antiga, no entanto, permanentemente nova ou continuamente renovada.
As lágrimas de desespero e de sofrimento das mães e das crianças africanas, parecem estar entregues a única garantia que se pode ter num meio hostil como aquele onde vivem, “seja o que Deus quiser”. Sabem que o mundo não deveria ser esta correria de um lado para outro. Mas têm que fazê-lo na esperança de encontrar um sítio que não lhes traga a memória da violência e de uma humanidade hipócrita e indiferente ao sofrimento dos outros.
A polémica em torno da participação militar da EU na RDC é um sinal claro de como algumas pessoas mortas têm que ser elas mesmas a darem sepulturas aos seus mortos. Para que a estratégia política possa funcionar, os mortos têm que sepultar os seus mortos. Aquela mulher que respira apenas, tem que encontrar forças para sepultar o bebe que traz nos braços e aquele homem que não acredita que está vivo mesmo assim tem de procurar forças para sepultar toda a família que acaba de perder.
É uma nova era, os mortos têm que enterrar os seus mortos para facilitar a acção política.

Sem comentários: