Como em todas suas obras, apesar de ter tido muitas vezes posições controversas e perturbadoras para alguns meios académicos e políticos, Hannah Arendt sempre falou alto e claro. Assim, esta pequena e grande obra (Sobre a Violência) também não é nenhuma excepção.
Não restam duvidas que a situação do pós holocausto que tem influenciado muitas das grande obras da autora, e podemos dizer que ela soube aproveitar bem a questão do sofrimento e da violência do pós holocausto para fazer uma síntese e distanciar-se da ideia que apresenta a violência como a mais flagrante manifestação de poder[1]. Arendt recusa liminarmente a ideia de qualquer tipo de violência possa ser apresentada como expressão de poder ou a violência como um fenómeno de direito próprio.
Já em obras anteriores como “a promessa da política”, Arendt defende e explica a oposição na Grécia antiga entre discurso e acção. Lembra que esta oposição se foi fazendo a medida que a consciência democrática crescia entre os gregos.
Porque um dos aspectos mais notáveis e fascinantes do pensamento grego é que desde o começo dos começos, o que significa desde Homero, esta separação de princípio entre o discurso e acção não se verifica, uma vez que o autor de grandes feitos tem de ser sempre e ao mesmo tempo autor de grandes palavras – não só porque são necessárias as grande palavras para acompanhar e explicar os grandes feitos que de outro medo cairiam na mudez do esquecimento, mas também porque o próprio discurso era considerado desde início uma forma de acção. O homem não se pode defender dos golpes do destino, dos enganos dos deuses, mas pode resistir-lhes por meio de discurso e responder-lhes, e embora a resposta nada mude, não afastando a má fortuna e não assegurando a boa, as palavras fazem parte do acontecimento enquanto tal[2].
Na obra “sobre a violência”, Arendt critica a ideia de progresso veiculada no séc. XIX que segundo ela, passou de emancipação para confrontação de forças opostas tendo assim por consequência um retrocesso. Na opinião de Arendt, o progresso deve explicar o passado sem romper o continuum temporal e desta forma, ser uma guia para o futuro. Para ela, esta foi a grande descoberta de Marx quando decidiu inverter o conceito de história de Hegel, mas a autora chama a atenção sobre o conceito de história de Marx porque é muito susceptível de manipulação[3]. Distancia-se assim de Marx porque para ela, a violência é justamente o protótipo esclarecedor de interrupção de progresso. E, este era também para os gregos, o pior mal que podia acontecer a polis, a violência ou guerra civil.
O poder coactivo é para Arendt um critério de Estado, mas não a sua essência, porque não é o exercício da força que faz um Estado. Desta forma, ela marca claramente a diferença entre “força e poder”. Para ela, Una de las distinciones más obvias entre poder y violencia es que el poder siempre precisa el número, mientras que la violencia, hasta cierto punto, puede prescindir del número porque descansa en sus instrumentos[4]. O poder é portanto um sintoma de legitimidade, de entendimento entre as pessoas, estando assim do lado oposto à violência. El poder nunca es propiedad de un individuo; pertenece a un grupo y sigue existiendo mientras que el grupo se mantenga unido[5]. No entanto, apesar destas características, o poder é também o instrumento de dominação do homem sobre o homem. A filosofia política tem dado a entender isso. De Bodin à Espinosa, o poder tem sido apresentado como a capacidade de ter domínio sobre o outro. Espinosa chega mesmo a dizer que antes do contrato ou do pacto, a potência do indivíduo é a sua única limitação e nesta situação, os homens são como deuses, porque têm poder sobre todos.(…………………)........................./........................(.........................).................../.............................
[1] Hannah Arendt, Sobre la Violencia, pg 49.
[2] Hannah Arendt, A promessa da Política, pg 108.
[3] Arendt, Sobre a violência, pg 44.
[4] Arendt, Sobre a violência, pg 57.
[5] Arendt, Sobre a violência, pg 60.
Não restam duvidas que a situação do pós holocausto que tem influenciado muitas das grande obras da autora, e podemos dizer que ela soube aproveitar bem a questão do sofrimento e da violência do pós holocausto para fazer uma síntese e distanciar-se da ideia que apresenta a violência como a mais flagrante manifestação de poder[1]. Arendt recusa liminarmente a ideia de qualquer tipo de violência possa ser apresentada como expressão de poder ou a violência como um fenómeno de direito próprio.
Já em obras anteriores como “a promessa da política”, Arendt defende e explica a oposição na Grécia antiga entre discurso e acção. Lembra que esta oposição se foi fazendo a medida que a consciência democrática crescia entre os gregos.
Porque um dos aspectos mais notáveis e fascinantes do pensamento grego é que desde o começo dos começos, o que significa desde Homero, esta separação de princípio entre o discurso e acção não se verifica, uma vez que o autor de grandes feitos tem de ser sempre e ao mesmo tempo autor de grandes palavras – não só porque são necessárias as grande palavras para acompanhar e explicar os grandes feitos que de outro medo cairiam na mudez do esquecimento, mas também porque o próprio discurso era considerado desde início uma forma de acção. O homem não se pode defender dos golpes do destino, dos enganos dos deuses, mas pode resistir-lhes por meio de discurso e responder-lhes, e embora a resposta nada mude, não afastando a má fortuna e não assegurando a boa, as palavras fazem parte do acontecimento enquanto tal[2].
Na obra “sobre a violência”, Arendt critica a ideia de progresso veiculada no séc. XIX que segundo ela, passou de emancipação para confrontação de forças opostas tendo assim por consequência um retrocesso. Na opinião de Arendt, o progresso deve explicar o passado sem romper o continuum temporal e desta forma, ser uma guia para o futuro. Para ela, esta foi a grande descoberta de Marx quando decidiu inverter o conceito de história de Hegel, mas a autora chama a atenção sobre o conceito de história de Marx porque é muito susceptível de manipulação[3]. Distancia-se assim de Marx porque para ela, a violência é justamente o protótipo esclarecedor de interrupção de progresso. E, este era também para os gregos, o pior mal que podia acontecer a polis, a violência ou guerra civil.
O poder coactivo é para Arendt um critério de Estado, mas não a sua essência, porque não é o exercício da força que faz um Estado. Desta forma, ela marca claramente a diferença entre “força e poder”. Para ela, Una de las distinciones más obvias entre poder y violencia es que el poder siempre precisa el número, mientras que la violencia, hasta cierto punto, puede prescindir del número porque descansa en sus instrumentos[4]. O poder é portanto um sintoma de legitimidade, de entendimento entre as pessoas, estando assim do lado oposto à violência. El poder nunca es propiedad de un individuo; pertenece a un grupo y sigue existiendo mientras que el grupo se mantenga unido[5]. No entanto, apesar destas características, o poder é também o instrumento de dominação do homem sobre o homem. A filosofia política tem dado a entender isso. De Bodin à Espinosa, o poder tem sido apresentado como a capacidade de ter domínio sobre o outro. Espinosa chega mesmo a dizer que antes do contrato ou do pacto, a potência do indivíduo é a sua única limitação e nesta situação, os homens são como deuses, porque têm poder sobre todos.(…………………)........................./........................(.........................).................../.............................
[1] Hannah Arendt, Sobre la Violencia, pg 49.
[2] Hannah Arendt, A promessa da Política, pg 108.
[3] Arendt, Sobre a violência, pg 44.
[4] Arendt, Sobre a violência, pg 57.
[5] Arendt, Sobre a violência, pg 60.
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