segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O INFERNO DOS ESQUECIDOS

Há um vento manso que continua a soprar tristemente nas mortíferas ruas de Somália. O Céu parou a história de quem ai vive e a violência roubou a memória da noção de PAZ. Os mais velhos provavelmente já ouviram tal palavra: Paz. Mas quem será afinal o mais velho num continente onde o nível de vida oscila entre os 35 e os 45? Assim sendo, poucas pessoas na Somália poderão dizer que já ouviram falar de uma paz real, aquele momento de acalmia que nos faz dormir e sonhar na tranquilidade e com um mundo justo e melhor.
No novo mapa de interesse mundial, o conflito entre os pobres deve ser rápido, ou melhor, as populações envolvidas em conflitos devem fazer tudo para que os mesmos sejam breves; aliás, devem fazer tudo para que não haja conflitos, e caso esta possibilidade falhe, devem esforçar-se para que estes conflitos sejam breves.
Em África, a Somália e a Uganda estão a pagar o preço do conflito dos pobres, o inferno dos esquecidos. O orgulho americano arrastou consigo as grandes potências para o esquecimento da Somália. Parece que mais vele lembrar-se do desaire de um país rico como é o Iraque de que lembrar-se do desaire das tropas americanas num país pobre, como é o caso da Somália, e sobretudo, um país pobre africano. A gestão das recentes piratarias contra as embarcações francesas e espanholas vêm testemunhar o medo que os países ocidentais têm da violência somaliana. A memória visual dos telespectadores ocidentais ainda guarda as imagens inumanas dos corpos dos militares americanos mortos arrastados publicamente pelos carros militares somalianos nas ruas de Mogadíscio e talvez seja esta ousadia que lhes valeu o preço do esquecimento.
PS: Publicado para FM

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